Era noite de lua cheia. Cheguei em casa cansada da agitação do dia, e da angústia que invadia meu peito. Pressentia que algo estava para acontecer comigo ou, alguém próximo a mim.
Era sempre assim que as coisas se manifestavam. Alguns dias antes o pressentimento começava a tomar conta de mim e logo uma notícia chegava ou um sonho era o portador do aviso de que algo bom estava para acontecer, que um problema familiar precisava ser resolvido ou com alguém próximo a mim, precisando de ajuda. Nada que eu fizesse, poderia afastar esse pressentimento, por mais que eu tentasse.
Tomei um banho demorado, observando pela janela a lua que surgia majestosa no céu. Até as estrelas cediam seu lugar para a soberania lunar.
Coloquei uma roupa confortável e resolvi caminhar um pouco pelo jardim, tentando buscar explicações para aquilo que eu sentia.
– Tenho a sensação de estar sendo observada- murmurei para mim mesma.
A claridade da lua desenhava sombras pelo gramado. Um arrepio percorreu-me a espinha.
Sentei-me em um dos bancos do jardim e deixei que o pensamento corresse solto. Ali devo ter permanecido horas a fio completamente absorvida pelas lembranças.
Novamente um calafrio percorreu-me o corpo e só então percebi ao meu lado, um vulto de vestes longas e negras como a noite. Um imenso capuz cobria-lhe o rosto.
– Ah! – foi o único som que emiti ao me deparar com aquele ser.
– Não tenha medo! – sua voz era suave, quase um sussurro e sua mão deslizava em minha direção.
Não consegui definir o que senti exatamente naquele momento em que sua mão tocou a minha. Lentamente o ser foi virando o rosto para mim, erguendo o capuz. O que via ali, não era um rosto como o de um ser humano, e sim, uma intensa luz de cor azul brilhante.
A partir desse momento as perguntas que formavam-se em minha mente eram respondidas com imagens desfilando diante dos meus olhos. Nós estávamos em sintonia total através das nossas almas. O passado, o presente e o futuro se uniam a minha frente numa visão extraordinária.
Compreendi que, o que estava acontecendo ali, naquele instante, mudaria para sempre minha vida. O tempo que ali ficamos frente a frente, não faço ideia, pois a última coisa com a qual iria me preocupar era o tempo. Era realmente fascinante poder ver tudo o que foi e que seria minha vida dali para a frente se não fosse o acontecimento que sucedeu o fato. Ainda mergulhada na beleza do momento pedi ao ser misterioso:
– Mostre-me mais. Quem é você? De onde você vem?
– Se o seu desejo é mesmo saber tudo, deverá acompanhar-me, mas há uma exigência. Você deverá deixar para trás todas as suas conquistas materiais, seus sentimentos de angústia, medos, ódios, enfim tudo o que pertence a terra. Lá, só há lugar para as alegrias, simplicidade, fantasias, sonhos; e seu encontro se concretizará com a felicidade eterna. Lembre-se a escolha é sua e no encontro com o infinito você jamais retornará.
Enquanto preparava-me para anunciar minha decisão, o ser entregou-me uma rosa branca, cujas pétalas pareciam feitas de luar.
Esse era o momento tão esperado, acompanhar o meu destino, viver algo que não fosse cansativo para o corpo e não exigisse tanto da minha alma.
Acordei no sofá da sala com o som do despertador enlouquecido lá no quarto. Estava mais leve e uma sensação gostosa de liberdade tomava conta de mim. Espreguicei-me e ao levantar-me do sofá, percebi restinhos de grama no tapete da sala e na mesinha de centro a rosa branca, linda, perfumada e iluminada como a lua. Ao tocá-la, senti uma presença já conhecida. Sorri e como quem procura pela pessoa em algum canto do recinto, perguntei:
– Posso responder agora qual é a minha decisão?!
Raquel Carpenedo
(Publicado na coletânea da ASES “ O anão que assoviava e outros contos”, 2015)
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